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Grupo foi apresentado na DEIC
Foram mais de dois meses de investigação e monitoramento para que policiais do Grupo Antissequestro (GAS) da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (DEIC) chegassem aos envolvidos no sequestro de um grande empresário de Goiânia ocorrido entre os dias 20 e 31 de maio deste ano. Três dos acusados, entre eles dois irmãos, são velhos conhecidos da polícia e considerados de alta periculosidade. As fichas criminais de todos eles apontam participações em ocorrências de vulto em diversos Estados brasileiros. Depois de pagar R$ 700 mil e libertado, o empresário, um homem de 60 anos, e sua família passaram os últimos 60 dias sendo extorquidos pela quadrilha que aceitou parcelar em quatro vezes mais R$ 400 mil.
João José da Silva, vulgo J.J., 55 anos; seu irmão Ronaldo José da Silveira, o Cuaio; e José Carlos de Melo, 58 anos, foram apresentados ontem pelo chefe do GAS, delegado Gaydson Carvalho, como os principais responsáveis pelo crime. Outros dois homens, também com vasta ficha criminal, estão com a prisão preventiva decretada. Todos eles são experientes em sequestros, assaltos a bancos e a carros fortes. O primeiro, considerado o líder do grupo e mentor intelectual do sequestro do empresário, estava foragido do regime semiaberto onde cumpria pena por extorsão e triplo homicídio.
O sequestro
Era por volta das 7 horas do dia 20 de maio quando o empresário, proprietário de uma rede de materiais de construção civil, motéis e fazendas, chegou sozinho em seu veículo Mercedes Benz à casa onde funcionava o escritório do grupo no Setor Pedro Ludovico, região Sul de Goiânia. Ele foi arrebatado de dentro do escritório, encapuzado e levado em seu próprio carro pelos sequestradores. Segundo o delegado, temendo que o carro fosse rastreado, os sequestradores o abandonaram no Anel Viário, nas proximidades da BR-060, saída para Guapó e entraram em outro veículo. De lá, o empresário foi levado para um imóvel alugado na Rua 8, no Setor Santos Dumont. Para despistar a polícia, logo em seguida o cativeiro foi transferido para outra casa na Rua 10, no mesmo bairro.
Conforme Glaydson Carvalho, o GAS foi comunicado do sequestro logo que a família foi acionada pelos sequestradores. “Isso foi muito importante para que pudéssemos monitorar a quadrilha desde o primeiro momento”, disse o delegado. No período em que esteve no cativeiro, o empresário não foi acorrentado, nem vendado e recebeu alimentação normalmente, mas sofreu tortura psicológica. Os envolvidos no sequestro mencionavam a todo momento que sabiam quem eram os membros de sua família e seu cotidiano. As negociações para o pagamento do resgate foram assumidas pela filha do empresário, que aceitou pagar R$ 700 mil pela libertação do pai. Àquela altura, entretanto, de dentro do cativeiro, o homem concordou em pagar em 30 dias mais R$ 400 mil em parcelas de R$ 100 mil.
O pagamento do resgate efetuado às margens da BR-153, já no estado de São Paulo, foi monitorado pelos policiais do GAS, mas não houve interferência porque a vítima continuava em poder do grupo. No dia 31 de maio, por volta das 21 horas, o empresário foi deixado no Anel Viário com um cartão telefônico para que pudesse entrar em contato com a família. Desesperado, o homem passou a acenar para os veículos que passavam pelo local e um casal decidiu parar. O empresário foi levado até um posto de combustível de onde ligou para os familiares.
Um dos suspeitos foi preso ao pegar segundo pagamento
Apesar da liberação, a extorsão não cessou por causa do acordo de parcelamento de mais R$ 400 mil. As investigações do GAS já mostravam que José Carlos de Melo, com passagens por sete Estados, poderia ser um dos envolvidos. Como ele chegou a frequentar os mesmos ambientes sociais do empresário, havia coletado informações sobre sua família e condição financeira. De acordo com o GAS, as informações foram repassadas a João José da Silva quando ambos cumpriam pena no complexo prisional de Aparecida de Goiânia.
A primeira parcela dos R$ 400 mil chegou a ser entregue para a quadrilha, mas no pagamento da segunda, no dia 5 deste mês, Ronaldo José da Silveira foi preso. Com detenção do irmão, João José fugiu a pé levando R$ 50 mil, tendo passado por Trindade, voltado para Goiânia e seguido para Itumbiara e depois Canápolis (MG), onde foi preso. Quase simultaneamente, José Carlos foi detido em Goiânia. Os outros R$ 50 mil já tinham sido repassados aos outros integrantes do grupo que estão foragidos.
O delegado explicou que com o dinheiro do resgate, os acusados compraram o ágio de um apartamento em Goiânia, veículos, roupas, pagaram dívidas e fizeram viagens. O GAS apreendeu veículos documentos falsos e parte de valores em espécie. Na DEIC, apenas João José admitiu a participação no sequestro. “Participei, mas reservo o meu direito de falar somente em juízo”, disse. Já José Carlos de Melo afirmou que não tinha nada a ver com o sequestro. “Fui preso pela minha amizade com o cara. Não peguei nenhum centavo, não preciso disso. Tenho carro”. O empresário voltou à sua rotina de trabalho, mas desativou o escritório no Setor Pedro Ludovico de onde foi levado.
Na história
Chacina em 1997
João José da Silva, o J.J., segundo o delegado Glaydson Carvalho, é temido no complexo prisional de Aparecida de Goiânia, mas agora teme pela própria vida por ter mencionado quem são os outros envolvidos no sequestro do empresário goiano. Ao ser preso, ele contou em detalhes como ocorreram o planejamento e a execução do crime. J.J. se aliou a nomes considerados experientes para consumar o plano.
Ex-vendedor de automóveis, João José foi condenado a 50 anos de reclusão por ter participado do assassinato dos comerciantes e sócios Ricardo Arthur Miranda Machado, 34, Numas Figueiredo Neto, 37, e do irmão dele, Wellington Luís Belle Figueiredo, 27, em dezembro de 1997, com quem tinha trabalhado. A tragédia, que ficou conhecida como Chacina da Praça do Avião, ocorreu no escritório da Dumont Veículos, no Setor Aeroporto.
Fonte: Jornal O Popular
Foto: Diomicio